
O homem não é feito menos por pequenas decisões, das quais tomamos centenas ao dia, do que pelas grandes que pensamos decidirem sozinhas os rumos gerais de nossas vidas. O segredo do fracasso muitas vezes encontra-se, portanto, no foco exacerbado que se dá a direção em que se devem seguir nossos passamos, mas não aos passos em sim. Deste modo, todos começam animados um curso na faculdade ou um novo trabalho, um novo semestre na primeira ou uma promoção no segundo, entretanto, a diligência e a obstinação necessarias para dar o seu melhor por meses e anos à fio, demonstra-se apenas numa absoluta raridade de casos. Assim, faz-se necessário afirmar uma lei geral na vida de todos os homens: nossos esforços não podem ser sempre um produto da excitação momentânea, mas antes devem ser permeados pela pura e simples disciplina, a qual constitui-se de uma fina linha que conecta os dias, e que passa por debaixo das pontes que formam as horas, mantendo unidos o passado e o presente de nossas vidas, lembrando-nos de seu significado mesmo quando a escuridão se põe sobre o espirito, a indecisão sobre a consciência e o medo sobre o coração.
É pelo que fazemos nos momentos dificeis, e não somente nos facéis, que nos diferenciamos das frutações e afastamo-nos das fraquezas que nos habitam.
A Disciplina é a raiz de todas as boas qualidades, pois sem ela nenhuma pode ser cultivada com o esmero necessário ao ponto de aflorar em nossas vidas. Claro, alguns podem discordar, “mas ela não deve matar a liberdade” dirão, e afirmo que de modo algum estes valores são opostos, pois sem o planejamento e a ação diligente tornamo-nos escravos do momento, dos vícios, das pulsões e das necessidades, nos transformamos em reféns da inconsequência com os sonhos podados por esperarmos que o mundo os trouxessem à nossos pés. Há ainda o fato de que naturalmente existem talentos que são tão profundos em nós que mesmo descuidados mantem-se belos e vistosos, sustentando-nos, seja materialmente ou ao ego, por anos a fio ainda que sem o devido cuidado, no entanto, todo talento não bem-tratado, como na parabola homônima, atrofia diante do cenário que o circunda e isto nos torna devedores com Aquele que os entregou à nós. A Disciplina, portanto, não deve ser vista como um dever para com o sucesso mais do que é um dever para consigo mesmo e com seu criador.
— Marcelo Jatobá de A. Jr.