Escrever, por quê?

O conde de Monte-Cristo, versão do ano de 2002. Adaptação do livro Homônimo de Alexandre Dumas.

— Do que vale escrever às pessoas se elas não leem?

— Porque alguém lê.

— mas isso não te leva a ganho algum.

—Bem, não escrevo para ganhar, ainda, mas escrevo para viver, como provavelmente sempre irei. Não é sequer uma escolha, entende? Deixe-me esclarecer uma coisa:

Certo dia, Pablo Picasso, quando questionado sobre o que faria se lhe tirassem as tintas, disse que desenharia apenas a lápis nas folhas de papel, e que se lhe tirassem as folhas de papel ele desenharia nas paredes ainda que tudo fosse apagado depois e se lhe tirassem os lápis ele cuspiria saliva no dedo e desenharia na poeira de sua cela…

Pois bem, fazendo um paralelo da pintura com a literatura, te digo:

Se eu fosse preso no castelo D’If como Edmond Dantes, e não tivesse meu lápis e papel, então eu seria obrigado a declamar poesia em voz alta ainda que esta se perdesse no ar ao compasso do tempo, e a prosa eu escreveria com minhas unhas nas paredes, um cinzel nas pedras viradas para um túnel… e embora isso pareça loucura é justamente isso o que impede um escritor de enlouquecer.

Não é um capricho tanto quanto é uma necessidade.

Entenda amigo que escrever, em certo ponto da vida, deixa-nos de ser uma opção e torna-se uma condição, pois é uma pulsão profunda, um talento (se grande ou pequeno cabe aos outros julgarem) que se for enterrado – como na parabola homônima – atrofia e morre, e a morte de uma parte de nós, de uma parte boa de nós, é mais dolorosa que a perspectiva da morte em si, pois neste ultimo caso ocorre um adeus à vida e — se tudo correr bem — um encontro com uma nova, melhor e mais bela, por outro lado, a atrofia de uma condição de existência, que de tão intima quase que te define, é em vida um adeus à si mesmo e por isso um profundo lamento, um ensaio do inferno.

Não é uma escolha, meu amigo, e nem somente um prazer, embora também o seja, mas fazemos o que fazemos porque precisamos respirar e construir no mundo o que Deus nos colocou para concretizar.

Ilustro o texto com imagem do próprio “Conde de Monte-Cristo” de Alexandre Dumas, cuja frase que mais me marcou ponho a seguir:

“…Portanto, vivam e sejam felizes, filhos diletos do meu coração, e nunca se esqueçam de que, até o dia em que Deus dignar-se a desvelar o futuro para o homem, toda a sabedoria humana estará nestas palavras: Esperar e ter Fé.”

Capa original da edição ilustrada de 1846 de “Le Comte de Monte-Cristo” de Alexandre Dumas .
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2 comentários sobre “Escrever, por quê?

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